A LiveBC do dia 15 de setembro explicou como o clima e os riscos sociais e ambientais têm impactado a economia e o sistema financeiro. A entrevistada foi a Chefe da Gerência de Sustentabilidade e de Relacionamento com Investidores Internacionais de Portfólio (Gerip) do Banco Central (BC), Isabela Ribeiro Damaso Maia. Confira a íntegra do programa aqui.
A sustentabilidade é um tema extremamente atual. Analisar e observar qual é o seu impacto na economia é uma das atividades que têm sido desempenhadas pelo BC nos últimos anos.
Abaixo, alguns dos principais pontos debatidos durante a live.
RIS
Isabela destacou que, recentemente, o BC divulgou a quinta edição do Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticos (RIS), que trata dessas questões:
“O RIS traz reflexões importantes sobre como a sustentabilidade e o sistema financeiro caminham juntos”, disse Isabela Ribeiro Damaso Maia, Chefe da Gerência de Sustentabilidade e de Relacionamento com Investidores Internacionais de Portfólio (Gerip) do BC.
Títulos sustentáveis
A chefe da Gerip explicou que esses papéis são instrumentos financeiros utilizados por empresas, governos e bancos para captar recursos no mercado. Diferenciam-se dos títulos convencionais por financiarem projetos com benefícios sociais ou ambientais, como energia limpa, saneamento, transporte público eficiente e habitação social.
Dentro desses títulos, há algumas categorias: os títulos sustentáveis em si, que podem financiar projetos sociais e ambientais ao mesmo tempo; os green bonds (títulos verdes), que são aqueles destinados a projetos ambientais e climáticos; e os sustentability linked bonds, que são títulos vinculados a metas de sustentabilidade, porém não estão ligados a projetos específicos.
Eventos climáticos extremos
Isabela explicou que eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, afetam a inflação e o custo de vida das pessoas: “A frequência e a intensidade desses eventos deixaram de ser uma hipótese e, hoje, são uma realidade no nosso dia a dia. Eles são cada vez mais comuns, mais intensos, com impacto na economia, nas finanças públicas e na vida de milhões de brasileiros”.
Ela explicou que, na safra de 2021/2022, o Brasil enfrentou a pior seca em noventa anos, com chuvas 25% abaixo da média histórica, perda nas lavouras, e impacto na geração de energia elétrica, entre outros. De acordo com Isabela: “Tudo isso teve impacto na inflação”.
Já em 2023, ela relembrou que a região amazônica passou pela pior seca dos últimos 120 anos: “Isso comprometeu não só o transporte fluvial, mas também o comércio exterior brasileiro”. Sobre 2024, ela citou as enchentes no Rio Grande do Sul: “Foi um dos maiores desastres climáticos da história recente do Brasil, uma tragédia com várias mortes. A inflação e a atividade econômica da região foram impactadas temporariamente”.
Isabela enfatizou que esses eventos climáticos extremos geram pressão sobre a atividade e sobre a inflação. E quem mais sente os efeitos desses choques são as famílias de baixa renda, que comprometem a maior parte do seu orçamento com alimentação e energia.
Portanto, segundo a chefe do Gerip, os eventos climáticos (extremos ou não) não são apenas uma questão ambiental.
“Além das variáveis econômicas tradicionais, como juros, câmbio e atividade, o Banco Central também considera fatores ambientais, como secas, enchentes e ondas de calor. Esses eventos afetam diretamente a oferta de alimentos, a geração de energia e, consequentemente, a inflação”, afirmou.
O objetivo do BC, segundo ela, é que esses riscos, ambientais e climáticos, sejam gerenciados de forma adequada pelas instituições financeiras, garantindo a resiliência do Sistema Financeiro Nacional (SFN). Além disso, o BC vem atuando para que haja maior transparência desses riscos, diminuindo assim a assimetria de informações sobre eles no mercado.

Regulação
Ela lembrou que, em 2021, o BC aprimorou o arcabouço regulatório prudencial padronizando informações sobre riscos sociais, ambientais e climáticos com foco em aspectos qualitativos, como gestão de risco e governança. Em 2024, lançou uma consulta pública buscando subsídios para incluir métricas e parâmetros quantitativos.
Segundo Isabela, uma nova consulta pública, agora já com uma proposta de norma, irá abarcar o que já foi desenvolvido tanto nos aspectos qualitativos quanto nos quantitativos: “A ideia é, até outubro, lançar essa consulta pública. E a norma, de fato, deve ser apresentada em 2026”.
De acordo com ela, o BC espera, com isso, aumentar a percepção das instituições financeiras sobre a importância do adequado tratamento desses riscos e que elas incorporem essas variáveis nas suas estratégias de negócios.
LiveBC #45 e mais sustentabilidade
Assista à íntegra da LiveBC # 45 aqui. Saiba mais sobre os projetos do BC na área de sustentabilidade aqui.