A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) projeta que a conta de luz deve ter um reajuste médio de 6,3% em 2025, o que indica que as tarifas de energia elétrica devem subir mais do que a inflação neste ano – a última projeção do mercado financeiro é de um índice de 5,05%.
A inflação no Brasil registrou leve alta em julho, mas veio abaixo do esperado pelo mercado
O aumento da estimativa é influenciado, principalmente, pelo orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) de 2025, fixado em R$ 49,2 bilhões. O valor é 8,6 bilhões acima do previsto anteriormente.
🔎A CDE é um fundo setorial abastecido, principalmente, por cobranças embutidas nas contas de luz de todos os consumidores, além de multas e aportes do Tesouro Nacional.
O fundo financia políticas públicas no setor elétrico, como:
tarifa social para famílias de baixa renda;
programa Luz Para Todos;
geração de energia em regiões isoladas;
subsídios para fontes renováveis;
compensações para consumidores que geram a própria energia, como os que usam painéis solares.
Impacto no consumo das famílias
Para especialistas ouvidos pelo g1, a projeção de alta preocupa, pois a energia elétrica tem peso relevante no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – cerca de 4% da cesta de consumo das famílias.
Professor do Ibmec, José Ronaldo Souza Jr explica que reajustes nas tarifas refletem diretamente na inflação. Em julho passado, por exemplo, a alta da conta de luz sozinha adicionou 0,12 ponto percentual ao índice mensal.
“Quando a tarifa média de energia cresce mais que a inflação projetada para o ano, significa que a eletricidade está ficando mais cara em termos reais em relação ao conjunto dos demais preços da economia”, acrescenta o professor, que vê consequências tanto para os consumidores quanto para a política monetária.
Reajustes nas tarifas de energia elétrica refletem diretamente na inflação.
Divulgação/Energisa
“Para os consumidores, isso reduz o poder de compra e pesa especialmente sobre famílias de baixa renda, que destinam maior parte do orçamento para pagar a conta de luz. Porém, a mudança recente na política de tarifa social atenua os efeitos sobre essa população de renda mais baixa”, contextualiza.
Em maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a medida provisória (MP) que altera regras do setor elétrico e amplia descontos na tarifa de energia. A proposta determina a ampliação da tarifa social. Segundo dados do governo, cerca 55 milhões de brasileiros serão beneficiados com desconto e 60 milhões com a isenção. O custo da isenção é estimado em R$ 3,6 bilhões por ano.
Na avaliação de Souza Jr., esse tipo de choque cria desafios para a política monetária. “Mesmo sendo um preço administrado, fora do controle direto do Banco Central, ele pressiona o IPCA e pode contaminar expectativas e reajustes salariais. Assim, aumenta a dificuldade de trazer a inflação de volta à meta sem manter juros elevados por mais tempo”, adiciona.
Pressão sobre a inflação dificulta o trabalho do Banco Central.
Marcello Casal/Agência Brasil
A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, vai na mesma linha. “Os maiores reajustes refletem a elevação dos custos principalmente encargos no setor, além de carregar a inércia, ou seja, a inflação passada, que está mais alta por um tempo mais prolongado”, explica.
“Esses reajustes acabam estendendo ainda mais esse período de inflação mais alta que estamos vendo, mesmo com preços industriais em queda. Com isso, a inflação mais persistente acaba adiando a discussão de corte de juros, apesar da Selic no elevado patamar em 15%”, avalia a economista.
Clima e bandeiras tarifárias
Além do orçamento da CDE, a atualização da projeção foi influenciada também por fatores como os hidrológicos e bandeiras tarifárias.
“Com afluências abaixo da média em todo o país, observa-se redução na geração das hidrelétricas. Esse cenário eleva os custos de geração de energia, devido à necessidade de acionamento de fontes mais caras, como as usinas termelétricas”, diz boletim da Aneel, divulgado no início desta semana.
No mesmo informe, a agência destaca que o acionamento das bandeiras tarifárias deve continuar até o início da recuperação do nível de armazenamento esperado para o final do ano.
🔎O sistema de bandeiras tarifárias foi criado pela Aneel para sinalizar o custo da geração de energia. Quando o custo de produção aumenta, com o acionamento de usinas termelétricas, a bandeira muda de cor. Em agosto, a bandeira está no nível vermelho 2.
Segundo projeções da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), há possibilidade de retorno da bandeira verde em dezembro, com o início do período úmido e recuperação dos reservatórios, aumentando a participação das hidrelétricas na matriz energética.
“Enquanto a bandeira verde não retorna, os consumidores continuam pagando adicionais (como os R$ 7,87 a cada 100 kWh da bandeira vermelha 2), o que mantém a conta de luz mais cara.
A previsão de bandeira verde apenas em dezembro significa que só no fim do ano deve haver alívio, quando a tarifa cairá com a retirada do adicional, podendo inclusive contribuir para uma inflação menor no fechamento do ano”, avalia José Ronaldo Souza Jr.
Entenda por que a conta de luz deve ficar acima da inflação em 2025
