Este é o pior começo de ano da empresa desde 2017, quando os dados começaram a ser divulgados. Fluxo de caixa preocupa empresa. Agência dos Correios em Campo Grande.
Renata Fontoura/TV Morena
Os Correios divulgaram nesta sexta-feira (30) as demonstrações financeiras do 1º trimestre de 2025 com um prejuízo de R$ 1,7 bilhão. Este é o pior começo de ano da empresa desde 2017, quando os dados começaram a ser divulgados.
O prejuízo é 115% maior do que o registrado no mesmo período de 2024, quando o déficit foi de R$ 801 milhões. Este é o décimo primeiro trimestre seguido de prejuízo dos Correios, nove deles foram sob a gestão do atual presidente, Fabiano Silva.
Mesmo com um resultado tão negativo, a empresa não justificou as causas e os impactos que o prejuízo auferido nos três primeiros meses do ano tiveram nas operações. Apenas justificou, em nota explicativa às demonstrações, que “a continuidade operacional para 2025 está assegurada”.
“A continuidade operacional dos Correios para o ano de 2025 está assegurada por uma série de fatores estratégicos e estruturais que fortalecem a sua posição no mercado e garantem a prestação de serviços essenciais à sociedade”, aponta o relatório.
Fluxo de Caixa
Uma situação que preocupa a empresa é o fluxo de caixa. Em 2024 a situação econômica da empresa se agravou tanto que o presidente trocou a diretora económico-financeira no começo deste ano.
O principal fator é a redução da liquidez financeira da empresa.
De acordo com as Demonstrações Financeiras de 2024 divulgadas no começo do mês, a empresa utilizou R$ 2.9 bilhões do dinheiro que estava no caixa e em aplicações financeiras, totalizando 92% do que estava aplicado em 2023.
Na apresentação mais recente, deste trimestre, o valor caiu ainda mais, com a empresa apresentando apenas R$ 126 milhões para cumprir com suas obrigações financeiras mensais.
A empresa tomou dois empréstimos no final do ano passado, num total de R$ 550 milhões, justamente para tentar manter as operações normais, mas internamente fontes ouvidas pelo g1 apontam que a empresa espera tomar um novo empréstimo, de bilhões de reais, para conseguir continuar a operar.
Essa escassez de dinheiro faz com que os Correios atrasassem repasses e pagamentos aos envolvidos no processo de geração de receita da empresa.
Com isso, desde o começo de abril, transportadoras que prestam serviço para os Correios estão paralisadas ou trabalhando em um ritmo mais lento, o que resulta em uma demora maior para o envio e entrega de encomendas.
No começo do ano, a empresa também atrasou o repasse da comissão das agências conveniadas – franqueados que prestam serviço de recebimento e despacho de encomendas.
Outro serviço afetado foi os repasses da mantenedora ao plano de saúde dos funcionários, que acabou sendo prejudicado fazendo com que algumas redes hospitalares suspendessem o atendimento.
Em um trecho das notas explicativas apresentadas junto com as demonstrações financeiras, a empresa até aponta que não está fazendo os pagamentos conforme o acordo firmado, mas sim de acordo com as “disponibilidades financeiras”.
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Medidas para contornar a situação
Três dias após anunciar o rombo bilionário nas contas de 2024, os Correios divulgaram uma lista de medidas a serem tomadas para conseguir contornar a situação financeira e tentar gerar economia de R$ 1,5 bilhão.
O diretor de Gestão de Pessoas dos Correios, Getúlio Marques Ferreira, justificou em um ofício enviado a todas as áreas que as propostas para diminuir despesas da empresa são “essenciais” para a “realidade atual” e para manter a “viabilidade da empresa”.
“Essas ações são essenciais para a adequação da empresa à realidade atual e visam assegurar sua viabilidade de forma eficiente e sustentável”, afirmou Ferreira.
As medidas tomadas pela empresa são:
➡️Revisão da estrutura dos Correios Sede: redução de pelo menos 20% do orçamento de funções (redução dos cargos comissionados);
➡️Incentivo à redução da jornada de trabalho: diminuição do horário de trabalho para 6 horas diárias e 34h semanais. Atualmente, são 8h diárias e 44h semanais;
➡️Suspensão temporária de férias: a partir de 1º de junho de 2025, referente ao período aquisitivo deste ano. As férias voltarão a ser usufruídas a partir de janeiro de 2026;
➡️Prorrogação das inscrições para o Programa de Desligamento Voluntário (PDV): até 18 de maio de 2025, mantendo os atuais requisitos de elegibilidade;
➡️Incentivo à transferência, voluntária e temporária, de agente de correios: o pagamento do adicional de atividade será o mais vantajoso para empregados;
➡️Convocação para o retorno ao regime de trabalho presencial: todos os empregados devem retornar ao trabalho presencial a partir de 23 de junho de 2025, com exceção daqueles protegidos por decisão judicial;
➡️Lançamento de novos formatos de planos de saúde: a escolha da rede credenciada será dialogada com as representações sindicais. A economia estimada será de 30%;
➡️Lançamento do marketplace próprio ainda em 2025;
➡️Captação de R$ 3,8 bilhões com o New Development Bank (NDB), para investimentos internos.
Além delas, no dia seguinte ao anúncio a empresa divulgou uma nova listagem de medidas que serão tomadas para buscar reverter os seguintes resultados negativos nos últimos anos.
Para alcançar esse objetivo, a empresa pretende adotar mais medidas de contenção de gastos como:
➡️Compartilhamento de unidades operacionais;
➡️Venda de imóveis ociosos;
➡️Redução de custos com manutenção;
➡️Otimização da malha operacional e logística;
➡️Revisão de contratos nas 10 maiores Superintendências Estaduais;
➡️Reestruturação da rede de atendimento;
➡️Aprimoramento da malha de transporte aéreo e terrestre.
Além de reduzir gastos operacionais, os Correios esperaram elevar o lucro com as operações em R$ 3,1 bilhões, movidos pelas seguintes medidas:
➡️Segmento internacional e encomendas: expansão de negócios com novos modelos operacionais, políticas de precificação customizadas e fortalecimento da atuação comercial;
➡️Setor público: novas soluções de logística e mensagens para órgãos públicos (educação, saúde, gestão documental, e-commerce público);
➡️Novos clientes: expansão e incentivo a clientes de pequeno e médio portes e vendedores do comércio eletrônico;
➡️Varejo: rentabilização dos canais físicos e ampliação de produtos e serviços de terceiros.
Sindicatos contrários
A Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios (Findect) enviou uma carta para o presidente dos Correios, Fabiano Silva, pedindo a suspensão de algumas das medidas que afetam diretamente os funcionários.
Entre os argumentos, a Findect pede que os Correios ofereçam mais garantias jurídicas que possibilitem a segurança dos funcionários.
“Entendemos como válida a iniciativa de propor a redução de jornada como alternativa de economia. Contudo, solicitamos que a ECT formalize um compromisso de que todo(a) empregado(a) que optar pela redução possa, a qualquer tempo, retornar à jornada de 8 horas diárias, mediante simples solicitação, sem que haja qualquer negativa por parte da empresa”, justificou a federação dos sindicatos.
Com relação ao Programa de Desligamento Voluntário (PDV), a Findect pede que os Correios convoquem os aprovados no último concurso público antes de efetivar os desligamentos para que não haja déficit de funcionários e prejudique o funcionamento das atividades.
Já sobre a suspensão das férias, a Federação de sindicatos manifestou “preocupação” com o impacto da medida na vida dos funcionários, já que muitos só têm o período de recesso escolar para poder viajar com os filhos em idade escolar.
“Solicitamos que nenhuma solicitação de manutenção de férias seja indeferida sem diálogo prévio com os sindicatos, por meio das Mesas Regionais de Negociação Permanente (MRNP) ou da MNNP, conforme o caso”, afirmou.
Correios registram prejuízo de R$ 1,7 bilhão no 1º trimestre de 2025; valor é 115% maior que em 2024
