O Ministério da Fazenda estimou que a economia brasileira terá desaceleração mais forte do que o previsto inicialmente neste ano, com expansão menor, mas que, mesmo assim, a inflação continuará acima do teto do sistema de metas.
Os dados constam no Boletim Macrofiscal, divulgado nesta quinta-feira (13) pela Secretaria de Política Econômica (SPE) da pasta.
➡️Para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2025, a projeção do governo recuou de uma alta de 2,3%, em setembro deste ano, para um crescimento menor: de 2,2%.
Se confirmado, esse resultado, haverá uma forte desaceleração da economia, que apresentou crescimento de 3,4% em 2024.
Também será a menor taxa de crescimento desde 2020, em meio à pandemia da Covid-19, quando houve uma retração de 3,3% no Produto Interno Bruto.
Para este ano, o Banco Central estima uma expansão de 2% para o PIB, enquanto o mercado financeiro projeta uma alta de 2,16%.
“O ritmo de atividade seguiu em desaceleração no terceiro trimestre, repercutindo o alto patamar dos juros reais (…) Essa desaceleração já era esperada, e repercute efeitos defasados e cumulativos da política monetária restritiva em vigor [taxa Selic elevada]”, informou o Ministério da Fazenda.
➡️Para 2026, ano marcado por eleições presidenciais, a expectativa do Ministério da Fazenda foi mantida em 2,4% de crescimento.
A projeção do governo para o PIB de 2026 está bem acima das estimativas do Banco Central (que projeta crescimento de 1,5%) e, também, dos economistas do mercado financeiro (+1,78%).
“Ao longo do ano [que vem], espera-se que a política monetária se torne menos contracionista [com queda do juro], contribuindo para tornar o mercado de crédito menos restritivo junto com políticas de crédito habitacional e ao trabalhador”, avaliou a Secretaria de Política Econômica.
Implicações na discussão do orçamento
A projeção da Secretaria de Política Econômica serve de base para as discussões do orçamento de 2026 no Congresso Nacional.
No projeto de lei orçamentária de 2026, enviado pelo governo ao Congresso Nacional no fim de agosto, a equipe econômica estimou que o PIB deverá crescer 2,44% no ano que vem.
Se confirmar uma projeção menor para o PIB do próximo ano, terá de admitir, também, que haverá menos arrecadação, levando a bloqueios maiores de despesas – em um ano eleitoral (para atingir a meta de um déficit zero, com intervalo de tolerância).
Juro alto
A forte desaceleração da economia acontece em meio a um processo de alta dos juros básicos da economia para tentar conter a inflação. Atualmente, a taxa Selic, fixada pelo Banco Central, está em 15% ao ano, o maior patamar em quase 20 anos.
A manutenção do juro neste patamar na semana passada, definida pela diretoria chefiada por Gabriel Galípolo e por uma diretoria indicada em sua maioria pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi defendida pelo ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto (indicador por Bolsonaro) e criticado pelo atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O BC tem dito claramente que uma desaceleração, ou seja, um ritmo menor de crescimento da economia, faz parte da estratégia de conter a inflação no país. A explicação é que, com um ritmo menor de crescimento, há menos pressões inflacionárias, principalmente no setor de serviços.
Estouro da meta de inflação
Mesmo nesse cenário de alta do juro básico e de desaceleração da economia, o Ministério da Fazenda prevê que a inflação continuará estourada (acima do teto) no ano de 2025 fechado.
➡️A Secretaria de Política Econômica baixou sua projeção para o IPCA, a inflação oficial, de 4,8% para 4,6% neste ano – ainda acima do teto vigente de 4,5%.
Se confirmada a estimativa, haverá queda da inflação, que somou 4,83% em 2024.
“A perspectiva de menor inflação no ano reflete efeitos defasados do real mais apreciado; a menor inflação no atacado agropecuário e industrial; e o excesso de oferta de bens em escala mundial como reflexo do aumento nas tarifas comerciais”, informou o governo federal.
➡️ Para 2026, o Ministério da Fazenda projetou um IPCA de 3,6%, o mesmo patamar de setembro. Se confirmada a queda, a inflação retornará ao intervalo do sistema de metas.
Desde o início deste ano, o governo adotou o sistema de meta contínua de inflação.
O objetivo central é de 3% – e a meta será considerada cumprida se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida, algo que já aconteceu em junho deste ano.
O Banco Central estimou, em setembro, que a inflação voltará a ficar abaixo do teto de 4,5% do sistema de metas somente no início de 2026.
E não projetou um atingimento do centro da meta, de 3% (meta formal na definição da taxa de juros), até o primeiro trimestre de 2027.
Com juro alto, governo vê desaceleração maior do PIB neste ano e inflação ainda acima da meta
