
Trump anuncia bloqueio total a petroleiros da Venezuela e diz que país está completamente cercado
O cerco dos Estados Unidos à Venezuela, com o bloqueio total a petroleiros ligados a alvos de sanções na terça-feira (16), marca mais um episódio da escalada de tensões entre os dois países, que vem se intensificando nas últimas semanas. O petróleo é um dos elementos centrais dessa disputa.
A Venezuela detém cerca de 17% das reservas mundiais conhecidas de petróleo, o equivalente a mais de 300 bilhões de barris, — um volume quase quatro vezes superior ao dos Estados Unidos, segundo estimativas de órgãos internacionais do setor energético.
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Publicamente, a Casa Branca afirma que as medidas fazem parte de uma estratégia para conter o narcotráfico e atividades ilícitas.
Nos bastidores, no entanto, analistas apontam que o acesso às vastas reservas petrolíferas venezuelanas é uma prioridade estratégica para Washington, especialmente em um contexto de rearranjo do mercado global de energia.
Entenda o mercado de petróleo venezuelano e os impactos na economia do país
O mercado de petróleo venezuelano
A Venezuela concentra a maior reserva comprovada de petróleo do planeta, com capacidade de aproximadamente 303 bilhões de barris, segundo a Energy Information Administration (EIA), órgão oficial de estatísticas energéticas dos EUA.
Esse volume coloca o país à frente de gigantes como Arábia Saudita (267 bilhões) e Irã (209 bilhões), com ampla margem. Grande parte do petróleo venezuelano, porém, é extra-pesado, o que exige tecnologia sofisticada e investimentos elevados para extração.
🔎 Na prática, o potencial é enorme, mas segue subaproveitado devido à infraestrutura precária e às sanções internacionais que limitam operações e acesso a capital.
Relatórios da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) indicam que a Venezuela produziu em torno de 1 milhão de barris por dia em 2025, um patamar modesto quando comparado aos mais de 2,5 milhões de barris por dia registrados em anos anteriores e às capacidades teóricas do país.
Sanções e mercado internacional
Na prática, a produção segue subaproveitada, afetada por infraestrutura precária e pelas sanções internacionais impostas pelos Estados Unidos, que limitam o acesso a capital e operações no setor.
Segundo a Reuters, em 2024 a estatal de petróleo da Venezuela faturou cerca de US$ 17,5 bilhões com exportações, produzindo em média pouco mais de 800 mil barris de petróleo por dia.
Ainda assim, o petróleo venezuelano é considerado estrategicamente relevante para os EUA, pois é compatível com as refinarias norte-americanas, especialmente as localizadas na Costa do Golfo.
Especialistas apontam que o interesse de Washington vai além do discurso oficial de combate ao narcotráfico e envolve objetivos econômicos, como a possibilidade de reduzir os preços dos combustíveis no mercado interno norte-americano.
Antes das sanções ampliadas em 2019, os Estados Unidos eram os principais compradores do petróleo bruto venezuelano.
Após as restrições, a Venezuela passou a direcionar grande parte de suas exportações para a China, por meio de acordos de petróleo em troca de empréstimos usados para quitar dívidas.
Esses contratos aprofundaram a relação energética entre Caracas e Pequim, principal rival estratégico dos EUA, e transformaram o petróleo em um eixo central da disputa geopolítica na região.
Impacto econômico
A produção e exportação de petróleo continuam sendo um dos principais motores do crescimento econômico do país, influenciando o Produto Interno Bruto (PIB) venezuelano.
Estima-se que em 2024 as vendas externas de petróleo corresponderam a cerca de 58% da renda estatal de petróleo da Venezuela, a PDVSA.
Em 2024 a PDVSA faturou US$ 17,52 bilhões em exportações de hidrocarbonetos (área que envolve a produção e venda de petróleo e gás), um recorde para o país; desse total, US$ 10,41 bilhões foram pagos ao tesouro nacional em impostos e royalties
Além disso, o petróleo responde por metade das exportações do país (sendo a outra metade basicamente refinados pesados), o que mostra o predomínio absoluto do setor.
Historicamente, a exportação de petróleo chegou a representar mais de 90% do total exportado (96,5% em 2013).
Os recursos petroleiros sustentam o orçamento público e permitem cobrir gastos essenciais. Por exemplo, parte dessas receitas financiava importações de bens, infraestrutura e programas sociais.
Mas essa dependência também gerou vulnerabilidade: quedas de preço ou volume impactam imediatamente as contas nacionais
Segundo estimativas recentes, a parcela do PIB atribuível diretamente ao petróleo estava na faixa de 10–15%, mas esse setor sustenta virtualmente 100% do superavit primário do governo
Dados divulgados pelo governo e repercutidos pela imprensa mostram que a economia do país cresceu cerca de 7,71% no primeiro semestre de 2025, impulsionada em grande parte pelo desempenho do setor de hidrocarbonetos (área que envolve a produção e venda de petróleo e gás), que teve crescimento de quase 15% no período.
No entanto, a dependência estrutural da Venezuela sobre o petróleo também representa uma vulnerabilidade significativa.
Análises feitas por institutos de pesquisa internacional apontam que as sanções lideradas pelos Estados Unidos causaram perdas de receitas petrolíferas estimadas em cerca de US$ 226 bilhões entre 2017 e 2024.
Esse valor equivalente a mais do que o próprio tamanho do PIB venezuelano em anos recentes, evidenciando o peso das exportações de petróleo na sustentação da economia e das contas públicas do país
*Reportagem em atualização
Teoria mais aceita sobre a origem do petróleo é a chamada “orgânica”
GETTY IMAGES
Entenda o mercado de petróleo da Venezuela, um dos centros da disputa em meio à escalada de tensões com os EUA
