
Carne bovina
Tiago Morheto via Pexels
A União Europeia recolheu lotes de carne bovina brasileira após identificar um hormônio proibido no bloco, informou a porta-voz da Comissão Europeia de saúde, Eva Hrncirova ao g1 na última sexta-feira (12).
Ela disse que uma carga com “pequenos volumes de carne congelada” foi certificada de forma incorreta para exportação ao bloco. A quantidade exata não foi informada.
A Missão Brasil na União Europeia, ligada ao Ministério das Relações Exteriores, publicou uma nota em seu perfil oficial dizendo que as próprias autoridades brasileiras informaram os europeus sobre a identificação do estradiol.
Esse hormônio faz com que todas as fêmeas entrem no cio no mesmo período. Ele é produzido naturalmente pelas vacas, mas também pode ser aplicado para sincronizar o cio dos animais. Saiba mais abaixo.
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“Como resultado desse trabalho coordenado, as remessas afetadas foram devidamente recolhidas pelas autoridades europeias. Deve-se enfatizar que o caso em questão é uma ocorrência rara”, diz a nota da Missão Brasil na UE.
O g1 procurou o Ministério da Agricultura , mas não obteve um retorno até a ultima atualização desta reportagem.
A confirmação da retirada dos lotes foi dada uma semana antes de o Conselho Europeu se reunir para decidir se deve aderir ao acordo entre Mercosul e União Europeia.
O tratado ainda enfrenta oposição de alguns países europeus, sobretudo da França. Isso acontece, principalmente, por causa do agro: agricultores e pecuaristas da UE temem perder espaço com o livre comércio dos alimentos do Mercosul, principalmente os brasileiros.
Em 2024, após uma votação simbólica do acordo, parlamentares franceses compararam a carne produzida pelo Mercosul a lixo, dizendo que ela é “cheia de hormônios de crescimento” e antibióticos. A acusação foi rebatida por representantes do setor e pesquisadores ouvidos pelo g1 na época.
Isso porque o uso de hormônios de crescimento é proibido na pecuária brasileira. É permitido o uso de hormônios para fins terapêuticos, ou seja, para o tratamento de doenças, e para a reprodução ou inseminação — caso do estradiol.
Exigências da UE x lei brasileira
Ao confirmar o recolhimento das remessas de carne, a porta-voz da Comissão Europeia disse que mantém discussões com autoridades brasileiras sobre “as medidas corretivas e um plano de ação eficaz”, para que o Brasil mantenha um sistema de certificação que cumpra as regras da UE de segurança alimentar e saúde pública.
Em janeiro deste ano, a Associação Brasileira das Empresas de Auditoria e Certificação de Rastreabilidade (ABCAR) criou, em janeiro de 2025, o Protocolo para Exportação de Fêmeas Bovinas (PEFB), para atender às exigências da União Europeia.
O protocolo busca garantir a rastreabilidade das fêmeas tratadas com estradiol e assegurar que apenas animais que nunca receberam o hormônio sejam abatidos para exportação à UE.
Na pecuária brasileira, a aplicação de estradiol acontece em quantidades menores do que as produzidas pelo próprio animal, explicou Rondineli Pavezzi Barbero, professor de bovinocultura de corte na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em entrevista ao g1 em 2024.
Pela lei, esse hormônio pode ser usado apenas em vacas para reprodução.
Para se certificar que a norma está sendo cumprida, existe no Brasil o Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC), em que é feita uma avaliação de risco com base técnica e no histórico de detecções. Em 2023, por exemplo, 99,76% da carne analisada pelo programa estava em conformidade.
União Europeia recolhe lotes de carne brasileira com hormônio proibido no bloco
