Fiscais aplicam quase 200 autuações ao Madero por irregularidades trabalhistas


Rede de restaurantes Madero é atuado em quase 200 infrações de trabalho
Reprodução/Divulgação
A rede de restaurantes Madero foi alvo de uma operação que gerou 193 autos de infração devido a diversas irregularidades trabalhistas.
A fiscalização, realizada entre março e julho de 2025 por auditores da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Minas Gerais (SRTE/MG), inspecionou 12 unidades da rede no estado.
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O relatório dos fiscais, obtido com exclusividade pelo g1, aponta problemas como falta de registro de empregados, alojamentos inadequados, discriminação por idade e estado civil, jornadas exaustivas, e ausência de políticas de prevenção ao assédio moral e sexual.
Em nota, o Grupo Madero diz que recebeu o relatório com atenção e investe em capacitação, alimentação e acompanhamento das equipes. A empresa disse ainda estar aberta ao diálogo com as autoridades para avaliar os pontos indicados e adotar melhorias quando necessário. (veja o texto na íntegra abaixo)
De acordo com auditores fiscais do trabalho, o modelo de gestão do Madero “viola direitos fundamentais” e “aumenta a vulnerabilidade de jovens recrutados” em cidades do interior do Norte e Nordeste.
O relatório aponta que os jovens eram enviados para unidades em outras regiões do país sem poder escolher o destino e, em alguns casos, começavam a trabalhar antes de ter o registro formal na carteira de trabalho.
Parte dos anúncios, segundo os auditores, incluía exigências de faixa etária entre 18 e 25 anos ou questionamentos obrigatórios sobre estado civil e filhos. Essas práticas são consideradas discriminatórias e proibidas pela Lei nº 9.029/1995 e por convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Encontramos editais de contratação que pediam faixa etária específica, o que é proibido por lei. Isso gerou autos de infração por discriminação etária”, explicou Odete Cristina Pereira Reis, auditora fiscal que coordenou a ação.
Os auditores identificaram regras rígidas nos alojamentos, descontos salariais variáveis e penalizações por descumprimento de normas internas, como não fazer faxina ou receber visitas.
Em alguns casos, os alojamentos ficavam a até 40 minutos a pé dos restaurantes, sem fornecimento de vale-transporte, mesmo para funcionários que terminavam o turno após a meia-noite.
Os auditores também apontaram práticas de assédio moral organizacional, com monitoramento constante, metas rígidas de produtividade e campanhas como “funcionário do mês” baseadas em critérios subjetivos.
A rede foi autuada ainda por desrespeitar o direito à desconexão, já que, segundo a investigação, os funcionários permaneciam sob vigilância constante, inclusive nos alojamentos.
Os auditores concluíram que o modelo de gestão do Madero “intensifica a exploração da força de trabalho” e “afronta direitos constitucionais”, como o convívio familiar e a proteção integral da juventude.
As 193 autuações foram aplicadas às unidades de Belo Horizonte (MG) e à matriz da empresa, em Ponta Grossa (PR).
Os autos de infração serão encaminhados aos órgãos competentes, como o Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público Estadual, sindicatos e coordenações da Secretaria de Inspeção do Trabalho.
Cada infração pode gerar multas administrativas, cujo valor varia de acordo com a gravidade e o porte da empresa. A Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) estima que o total possa alcançar R$ 3,4 milhões.
🔎 No entanto, a secretaria ressalta que os autos de infração ainda estão em análise e os valores são aproximados, podendo aumentar em alguns casos ou ser reduzidos se a empresa apresentar defesa.
O Madero poderá ser obrigado a regularizar os registros dos empregados, adaptar os alojamentos às normas legais e implementar medidas de combate ao assédio. Caso não cumpra essas exigências, a empresa poderá enfrentar ações judiciais e novas fiscalizações mais rigorosas.
“Nosso trabalho termina com os autos e com o relatório. A partir daí, o Ministério Público do Trabalho e outros órgãos acompanham os desdobramentos. O que podemos afirmar é que as irregularidades foram comprovadas e a empresa precisará responder”, concluiu a auditora Odete Cristina.
O que diz o Madero
O Grupo Madero recebeu com respeito e atenção o relatório da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Minas Gerais e reafirma seu compromisso em garantir o bem-estar de seus colaboradores, de acordo com o previsto pela legislação trabalhista brasileira.
A empresa tem orgulho de cumprir uma função social importante, oferecendo oportunidades de primeiro emprego a milhares de jovens de todo o Brasil, especialmente em regiões onde o mercado formal é escasso. Muitos desses jovens encontram no Grupo Madero a chance de ingressar no mercado de trabalho e construir uma trajetória profissional que talvez não fosse possível sem essa iniciativa.
O Grupo Madero também reforça sua preocupação com o conforto e a segurança de seus times, investindo em programas de capacitação, alimentação balanceada durante a jornada e acompanhamento constante para garantir condições adequadas de trabalho.
A empresa está aberta ao diálogo com a Superintendência e demais autoridades, bem como disposta a analisar cada ponto trazido pelo relatório, implementando ajustes e melhorias sempre que necessário. O Grupo Madero acredita que a transparência e a cooperação são os melhores caminhos para seguir contribuindo com o desenvolvimento de seus colaboradores e da sociedade.
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