Pela 1ª vez, SP tem mais gente saindo do que chegando; SC tem maior ganho de população por migração no Brasil


Dados do IBGE mostram que os dois estados historicamente destinos da migração interna passaram a perder moradores para outras regiões. Além de SC, Goiás, Minas e Mato Grosso também se destacaram. Pela 1ª vez, SP tem mais gente saindo do que chegando
Pela primeira vez desde o começo da série histórica, em 1991, o estado de São Paulo registrou mais saídas do que entradas de moradores vindos de outros estados, segundo dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (27).
Os dados indicam uma mudança no mapa migratório brasileiro, com os principais centros urbanos do Sudeste perdendo protagonismo como polos de atração, aponta o levantamento.
📉 São Paulo perdeu 89,5 mil habitantes no saldo migratório interno entre 2017 e 2022.
📉 O Rio de Janeiro também perdeu habitantes no saldo migratório interno, 165,3 mil pessoas deixaram o estado.
Ambos os casos representam uma reversão inédita no padrão de redistribuição populacional.
Com isso, São Paulo e Rio de Janeiro encerraram o período com populações de 44,4 milhões e 16 milhões de pessoas, respectivamente. Até o Censo anterior, em 2010, os dois estados apresentavam saldos positivos, sendo São Paulo o principal destino da migração brasileira.
😯 É como se, em média, São Paulo tivesse perdido 49 moradores por dia para outros estados entre 2017 e 2022 e 91 pessoas por dia tivessem deixado o Rio no mesmo período.
Movimentação de pessoas na Rodoviária Tietê, na zona norte de São Paulo, na tarde de 29 de março de 2021, em meio à pandemia do coronavírus.
André Pera/Pera Photo Press/Estadão Conteúdo
Na outra ponta, Santa Catarina se tornou o principal destino de migrantes no país, com saldo positivo de 354,3 mil novos moradores vindos de outras unidades da federação.
O estado recebeu 503.580 imigrantes interestaduais e viu saírem 149.230 pessoas, o que resultou em um aumento de 4,66% da população total, a maior taxa de crescimento por migração no Brasil no período.
Primeiro voo chegou a Jaguaruna (SC) por volta das 13h15
Julio Cavalheiro/Secom
Segundo o Censo 2022, os cinco estados que mais ganharam moradores no saldo migratório interno entre 2017 e 2022 foram:
Santa Catarina (+354.350 pessoas);
Goiás (+186.827);
Minas Gerais (+106.499);
Mato Grosso (+103.938) e;
Paraná (+85.045).
Na outra ponta, os que mais perderam população para outros estados foram:
Rio de Janeiro (-165.360 pessoas),
Maranhão (-129.228),
Distrito Federal (-99.593);
Pará (-94.097) e;
São Paulo (-89.578).
Quem ganhou e quem perdeu população entre os estados
Arte g1
📋Para chegar ao saldo, os pesquisadores do Censo perguntaram onde a pessoa morava em 31 de julho de 2017, cinco anos antes da data de referência (2022). A partir dessa resposta, o IBGE calculou os fluxos migratórios por estado. As estimativas têm base na amostra do Censo, aplicada a 10,6% dos domicílios do país — cerca de 7,8 milhões de entrevistas —, e os resultados são preliminares.
De acordo com os dados do Censo 2022:
São Paulo teve saldo negativo de 89,5 mil moradores entre 2017 e 2022;
Rio de Janeiro perdeu 165,3 mil habitantes para outros estados;
Santa Catarina foi o estado com maior ganho: +354,3 mil pessoas;
Goiás, Minas e Mato Grosso também lideram crescimento por migração;
Paraíba foi o único estado do Nordeste com saldo positivo;
DF passou a perder população, principalmente para Goiás;
Jovens de 25 a 34 anos concentram a maioria dos fluxos migratórios.
Saindo de SP e RJ 💨
Avião decolando da pista do Aeroporto Internacional de Cumbica
Sidnei Barros/Prefeitura de Guarulhos
São Paulo, que historicamente concentrou a chegada de migrantes do Nordeste, Sul e Centro-Oeste, apresenta saldo negativo pela primeira vez. Foram 825.958 saídas contra 736.380 entradas, o que resulta no saldo negativo de 89.578 moradores. O novo padrão indica um esgotamento relativo do potencial de atração do estado.
⏳ No Censo de 2010, São Paulo se manteve como principal destino da migração interna brasileira à época, com um ganho de 255.796 moradores.
No Rio de Janeiro, o cenário é ainda mais acentuado: o estado teve 332.574 saídas e apenas 167.214 entradas, o que totaliza uma perda de 165,3 mil habitantes. A perda é de 1,03% da população, que era de 16,05 milhões de habitantes em 2022.
A reversão acentuada também marca uma mudança significativa na dinâmica migratória fluminense.
O novo padrão indica que, mesmo mantendo certa capacidade de atração, o estado passou a registrar uma evasão populacional expressiva, com destaque para fluxos de saída rumo a São Paulo (21,4%), Minas Gerais (17,7%) e Espírito Santo (7,3%), segundo o IBGE.
Migração de retorno
O saldo migratório negativo de São Paulo foi puxado principalmente pela saída de pessoas que já haviam migrado para o estado em décadas anteriores. Segundo o IBGE, a maior parte dos moradores de SP nascidos fora do estado vem da Bahia (21,4%), Minas Gerais (18,8%) e Paraná (11,9%).
Já entre os emigrantes — pessoas que moravam em São Paulo em 2017 e passaram a viver em outro estado até 2022 —, os principais destinos foram Minas Gerais (19,1%), Bahia (15,4%) e Paraná (12,8%), o que indica um movimento de retorno à terra natal ou migração para estados vizinhos, aponta o IBGE.
No caso do Rio de Janeiro, o saldo migratório negativo é puxado por saídas em direção principalmente a São Paulo (21,4%), Minas Gerais ( 17,7%) e Espírito Santo (7,3%).
‘Descer pra SC’
Orla de Balneário Camboriú
Prefeitura de Balneário Camboriú
Santa Catarina recebeu 503.580 pessoas de outros estados entre 2017 e 2022 e viu 149.230 moradores deixarem o território, resultando em um saldo positivo de 354.350 pessoas — o maior do Brasil em números absolutos e também em proporção.
Segundo o IBGE, os principais estados de origem dos novos moradores de Santa Catarina são Rio Grande do Sul (26,8%), Paraná (19,1%) e São Paulo (12,4%), mas o fluxo migratório também passou a incluir regiões mais distantes, como o Pará (8,9%), que já aparece como a quarta maior origem.
Por outro lado, entre os emigrantes — pessoas que saíram de Santa Catarina entre 2017 e 2022 —, os destinos mais frequentes foram Paraná (37,4%), Rio Grande do Sul (24,9%) e São Paulo (13,4%), o que reforça a dinâmica de circulação regional no Sul do país.
⏳ Em 2010, Santa Catarina era o 3º maior destino de migrantes no país em 2010.
Santa Catarina lidera chegada de novos moradores
Arte g1
Centro-Oeste em alta
Depois de Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás também se destacaram como estados que mais ganharam população que perderam.
Mato Grosso teve saldo positivo de 103.938 pessoas, com uma taxa de migração de 2,84% — a segunda maior do Brasil, atrás apenas de Santa Catarina.
Os principais estados de origem dos novos moradores de Mato Grosso foram Maranhão (17,7%), Pará (11,2%) e Goiás (10,4%), além de contribuições significativas de São Paulo.
“Essa tendência pode ser explicada por fatores estruturais como a expansão agrícola, investimentos em infraestrutura e o fortalecimento dos polos urbanos da região”, explicam os pesquisadores.
Goiás ganhou 186.827 pessoas, o terceiro maior do Brasil, o que representou um crescimento de 2,65% na população total do estado.
Segundo o IBGE, 28,2% dos novos moradores de Goiás vieram do Distrito Federal, reforçando o vínculo territorial entre o DF e o entorno goiano. Outros estados que mais enviaram moradores para Goiás foram o Maranhão (12,3%) e o Pará (9,5%), o que revela também o alcance da migração nordestina e nortista para a região.
Centro-Oeste ganha força na migração interna
Arte g1
Nordeste ainda perde população — com exceção da Paraíba
O Nordeste como um todo manteve a tendência histórica de perdas populacionais para outras regiões, com destaque para a Bahia (-41.549), Pernambuco (-41.486) e Maranhão (-129.228).
📈 A exceção foi a Paraíba, que registrou saldo positivo de 30.952 pessoas — o único estado nordestino com mais entradas do que saídas entre 2017 e 2022.
Perda de população na região Nordeste
Arte g1
Jovens são maioria entre os migrantes
A migração interna é, sobretudo, um movimento jovem — 1 em cada 5 migrantes tinha entre 25 e 29 anos. De acordo com o Censo 2022, mais de 3,5 milhões de pessoas com idades entre 25 e 29 anos mudaram de cidade nos cinco anos anteriores à coleta — o equivalente a 22,8% do total de migrantes do período, segundo o IBGE.
Também se destacam os grupos de 20 a 24 anos e 30 a 34 anos — que representam cerca de 18,5% a 17,5%, respectivamente, da migração — o que reforça que a mobilidade pode estar diretamente associada ao ciclo de entrada na vida adulta, com busca por trabalho, estudo, moradia e formação de família.
“A migração é amplamente reconhecida como um fenômeno demográfico fortemente seletivo por idade, manifestando padrões distintos de mobilidade entre os diversos grupos etários”, afirmam os pesquisadores.
Mais destaques do Censo em imigração
📍 Minas Gerais ultrapassa São Paulo em saldo migratório. Com saldo de 106,5 mil pessoas, Minas ultrapassou São Paulo e passou a figurar entre os estados que mais atraem do que perdem moradores de outras regiões. O movimento foi puxado por quem saiu justamente de SP e do Rio: 19,1% dos emigrantes paulistas e 17,7% dos fluminenses escolheram Minas como novo destino — reforçando o interior mineiro como novo polo de atração no Sudeste.
📍 Espírito Santo ganha força no mapa migratório. Apesar de estar fora do top 5 em números absolutos, o estado se destacou como nova alternativa para migrantes que saem de grandes centros, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, e teve ganho populacional de 27,8 mil pessoas entre 2017 e 2022.
📍 Distrito Federal também inverte padrão e passa a perder população. O DF teve a maior queda de perda de população do país – 3,53%. A maior parte dos emigrantes foi para Goiás (48,5%), revelando a expansão da urbanização no entorno. Quase 1 em cada 2 moradores que saíram do DF foi morar em Goiás.
📍 Pará perde mais população. Antes um dos estados que mais recebia migrantes — especialmente vindos do Nordeste —, o Pará perdeu 94 mil moradores para outras regiões do país.
Outros destaques do Censo 2022
O Brasil atingiu a menor taxa de fecundidade da história: 1,6 filho por mulher, abaixo do nível de reposição populacional (2,1);
A idade média das mulheres ao ter filhos subiu para 28,1 anos em 2022;
Mulheres com ensino superior têm, em média, 1,2 filho; entre aquelas com menor escolaridade, a média é de 2,0;
Mulheres indígenas têm a maior taxa de fecundidade do país (2,8 filhos); espíritas, a menor (1,0);
O número de estrangeiros no Brasil chegou a 1 milhão em 2022 — maior índice dos últimos 45 anos;
Venezuelanos ultrapassaram os portugueses e passaram a ser a principal nacionalidade de estrangeiros no país;
Roraima tem o maior percentual de população formada por estrangeiros: 12,8%.
Amanhecer na região do Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, no dia 4 de junho de 2025
GloboNews/Reprodução

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