Colheita de milho foi uma das lavouras que puxou o resultado, segundo o IBGE.
Reprodução/TV TEM
A agropecuária cresceu 10,1% no segundo trimestre de 2025, em relação ao segundo trimestre do ano passado, segundo dados do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados nesta terça-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em relação aos três primeiros meses do ano, a agropecuária recuou 0,1%.
Além de um bom desempenho da pecuária, o resultado anual se deve, principalmente, à estimativa de crescimento das plantações de milho (19,9%), soja (14,2%), arroz (17,7%), algodão (7,1%) e café (0,8%).
Participação do agro no PIB deve crescer este ano
O agro tem um peso de 6,5% no PIB divulgado pelo IBGE. Para chegar a esse percentual, o instituto calcula a participação de atividades que acontecem dentro das porteiras, como os plantios e as criações de animais.
Mas existe uma série de atividades que acontecem fora da porteira, em agroindústrias, além de serviços ligados à produção agrícola e pecuária. Quando se coloca na conta tudo isso, a participação do setor sobe para 23%.
Hoje, quem calcula esse PIB mais abrangente é a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA).
Segundo Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócios, essa participação do agro no PIB deve avançar para 29% este ano, puxado pela colheita de soja e milho.
Soja
O PIB do segundo trimestre é mais impactado pelo esmagamento da soja para a produção de óleo e farelo do que pela colheita do grão, que é concentrada no primeiro trimestre, explica Plinio Nastari, CEO da Datagro Consultoria.
Apesar disso, ele pontua que houve um atraso na colheita este ano, o que acabou empurrando parte dessa atividade para o segundo trimestre.
“O Brasil teve recordes históricos de esmagamento de soja em março, abril e maio. E a expectativa é de que esses dados se confirmem em junho também, fechando o segundo trimestre com recordes históricos consecutivos”, detalha a analista de grãos da Datagro, Giovana Cavalca.
O Brasil também exportou grandes volumes de soja no período, mesmo em um cenário de superoferta nos EUA e na Argentina.
Diante das tarifas comerciais impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o produto brasileiro ganhou parte do mercado norte-americano na China, o que tem gerado reclamações de produtores dos EUA.
China aumenta compras de soja do Brasil e produtores dos EUA pedem ajuda a Trump
Milho
A colheita da segunda safra de milho, que acontece normalmente entre maio e agosto, atrasou este ano e, por isso, seu impacto no PIB deverá ser sentido mais no terceiro trimestre, diz Cogo.
Giovana, da Datagro, detalha que o cenário é consequência dos atrasos no plantio de soja e de chuvas atípicas no início de junho.
Ainda assim, a safra total será recorde, com 137,8 milhões de toneladas.
Cana-de-açúcar
O setor de cana-de-açúcar entrou na safra 2025/26 com sintomas de “ressaca” da forte seca e dos casos de incêndios ocorridos 2024, cenário que provocou uma queda de 14,5% na produção de açúcar no 2º trimestre deste ano, em relação a igual período do ano passado.
É o que afirma o economista sênior da Datagro Bruno Wanderley Freitas.
“O segundo trimestre espelha os impactos dessa ‘ressaca’, mas é um retrato que não será replicado nos trimestres seguintes”, destaca Freitas.
A produção de etanol também caiu no segundo trimestre, na comparação anual. O percentual de queda foi de 14,3%, para 9,74 bilhões de litros.
Café
No setor do café, o principal destaque foi a receita das exportações, que bateu recorde tanto no 2º trimestre, quanto no acumulado do primeiro semestre, segundo a Datagro.
De janeiro a junho, o Brasil vendeu US$ 7,52 bilhões em café para o exterior, uma alta de 40,6% em relação ao mesmo período do ano passado, puxada pelos altos preços no mercado internacional.
As cotações estão em alta porque a demanda por café no mundo está maior do que a produção dos países.
“O cenário para o café é muito positivo, não pelo volume de produção, mas pelos preços. A tendência é que o bom desempenho se mantenha no segundo semestre, mesmo com possível recuo nos preços”, diz Daniel Pinhata, analista de café da Datagro.
Em relação ao tarifaço dos EUA, Pinhata diz que o cenário é de incerteza diante de muitos contratos que foram paralisados.
No dia 6 de agosto, empresas norte-americanas passaram a pagar uma taxa de 50% pelo café brasileiro, após decreto assinado pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
“No curto prazo, a substituição é muito complicada. Se a tarifação persistir até o próximo ano, os EUA podem procurar outras fontes, e o Brasil pode aumentar a sua presença nos mercados europeu, japonês e chinês”, diz Pinhata.
“Contudo, devido ao déficit de oferta global, o cenário para o Brasil é mais positivo no geral”, complementa.
Pinhata explica que o Brasil será praticamente o único país que terá uma boa quantidade de café arábica para exportar neste segundo semestre.
De agosto a dezembro, por exemplo, o país costuma enviar para fora cerca de 15 milhões de sacas de café, enquanto a Colômbia, 5 milhões, e o Peru, 2 milhões.
“É um cenário complicado para os Estados Unidos, que vive um cenário de estoques reduzidos”, comenta.
Entenda o impacto do tarifaço de Donald Trump para o agro do Brasil
PIB: agropecuária cresce 10% no segundo trimestre na comparação anual, segundo IBGE
