Novo relatório da Oxfam mostra que a elite global concentrou US$ 33,9 trilhões (cerca de R$ 185 trilhões) em uma década, enquanto 3,7 bilhões de pessoas sobrevivem com apenas R$ 45 por dia. Comunidades da Vila Andrade contrastam com o luxo de mansões do Panamby, na Zona Sul de SP
Celso Tavares/G1
Enquanto cerca de 3,7 bilhões de pessoas continuam lutando para sobreviver com menos de US$ 8,30, o equivalente a R$ 45, o 1% mais rico do planeta viu sua fortuna crescer como nunca: mais de US$ 33,9 trilhões (cerca de R$ 185 trilhões) foram acumulados desde 2015.
Esse valor seria suficiente para acabar com a pobreza global por 22 vezes, segundo a Oxfarm, organização internacional dedicada ao estudo das desigualdades.
A conclusão está no novo relatório “Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia”, publicado nesta terça-feira (25), há poucos dias maior conferência internacional sobre financiamento do desenvolvimento da última década, em Sevilha, na Espanha.
Segundo a organização, a riqueza de apenas 3 mil bilionários cresceu US$ 6,5 trilhões (R$ 35,4 trilhões) nesse período e já representa 14,6% de todo o PIB global.
Entre os anos de 1995 e 2023, a riqueza privada global saltou US$ 342 trilhões (R$ 1,86 quatrilhão) — oito vezes mais do que o que os governos conseguiram acumular como riqueza pública, que subiu apenas US$ 44 trilhões (cerca de R$ 239,8 trilhões).
“Essa concentração extrema de riqueza está sufocando os esforços para acabar com a pobreza”, afirma Amitabh Behar, diretor executivo da Oxfam Internacional. P
Para Behar, os últimos anos mostram que os interesses de uma minoria extremamente rica têm sido colocados acima das necessidades da maioria da população mundial.
O relatório também revela que governos de países ricos estão promovendo os maiores cortes já registrados na ajuda humanitária e ao desenvolvimento.
Apenas os países do G7, responsáveis por cerca de 75% da ajuda oficial global, planejam reduzir os repasses em 28% até 2026, em relação a 2024.
Esses cortes podem ter consequências devastadoras, alerta a Oxfam. Segundo projeções do relatório, a diminuição no financiamento pode resultar na morte de até 2,9 milhões de pessoas até 2030, apenas por causas relacionadas ao HIV/AIDS.
Além disso, 60% dos países mais pobres estão quase quebrando por causa das dívidas. Muitos estão pagando mais aos seus credores, que são privados e se recusam a negociar, do que gastam em escolas e hospitais.
Apesar desse cenário desanimador, a população global mostra apoio massivo a uma mudança de rota.
Uma pesquisa realizada em 13 países, incluindo Brasil, Canadá, França, Índia, África do Sul e Estados Unidos, apontou que 9 em cada 10 pessoas defendem a taxação dos super-ricos como forma de financiar serviços públicos e ações contra a crise climática.
A Oxfam defende que está mais do que na hora de mudar o modelo atual, que favorece grandes investidores, o chamado “consenso de Wall Street”.
Segundo a ONG, essa estratégia falhou: trouxe pouco dinheiro de verdade, aumentou a desigualdade e prejudicou países mais vulneráveis.
“Os países ricos colocaram Wall Street no volante do desenvolvimento global. Está na hora de tirar esse modelo do caminho e colocar o interesse público como prioridade”, disse Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.
A Oxfam propõe que os governos adotem uma nova abordagem no financiamento do desenvolvimento, com foco em políticas públicas e redução das desigualdades. Entre as medidas sugeridas estão:
Criar alianças entre países para enfrentar a desigualdade;
Deixar de apostar tanto no setor privado e investir em serviços públicos;
Cobrar impostos dos ultrarricos;
Reformar o sistema de dívidas globais;
E ir além do PIB para medir o que realmente importa.
Segundo Behar, “trilhões de dólares estão aí, mas concentrados nas mãos de poucos. Os governos precisam ouvir o que o mundo está pedindo: taxar os ricos e investir no que realmente importa, como saúde, educação e energia limpa”.
As propostas citadas no relatório vão ser apresentadas oficialmente no dia 30 de junho, na Espanha, durante a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, com a presença de mais de 190 países.
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