
O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que o caso envolvendo o Banco Master reforça a necessidade de aprimorar e modernizar os mecanismos de fiscalização do sistema financeiro.
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Durante o Almoço Anual dos Dirigentes de Bancos, organizado pela Febraban nesta segunda-feira (24), Galípolo comentou sobre as investigações que levaram à operação da Polícia Federal.
“A obra de supervisão nunca está completa, não só da supervisão. O trabalho do Banco Central não tem ponto de chegada, é um movimento contínuo”, disse.
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Ele destacou a atuação conjunta entre BC, Ministério Público e PF, e ressaltou que o trabalho regulatório é permanente, já que novas fragilidades podem surgir à medida que o setor evolui.
Segundo Galípolo, a diretoria de fiscalização do BC identificou as irregularidades e notificou as autoridades conforme previsto em lei, permitindo que cada órgão atuasse sem interferir no trabalho do outro.
Além disso, ao contextualizar o tema, o presidente lembrou que falhas bancárias não são exclusividade do Brasil e seguem ocorrência natural em sistemas financeiros complexos — citando que episódios semelhantes aparecem periodicamente em países como Estados Unidos e Suíça.
“Bancos são instituições falíveis […] Esses problemas vão acontecer. O importante é a gente sempre aprender e conseguir inovar para que você não caia na repetição de problemas que aconteceram no passado, né?”
Cobranças do governo
Durante o evento, o presidente do Banco Central também comentou sobre as pressões em torno da política monetária e a necessidade de manter equilíbrio emocional em um cenário de juros altos — tema que provoca tensões dentro e fora do governo Lula
Galípolo tem sido cobrado após a avaliação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que já seria possível iniciar o corte da Selic, atualmente em 15% ao ano, o maior nível em duas décadas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou também a criticar o Banco Central e a cobrar redução dos juros no país.
Ao responder às críticas, o presidente reforçou que o BC não pode se deixar influenciar por pressões políticas ou setoriais.
“O Banco Central não pode se emocionar porque realmente se perde nas tensões que são decorrentes naturais aí de um aperto monetário”, afirmou.
O presidente do BC reconheceu que há “tensões naturais e até tensões dentro do próprio governo em relação à taxa de juros”. Mesmo assim, considera o embate saudável. “Se governo não puder falar, não puder debater, não puder procurar, quem vai poder?”, disse.
O presidente ainda recorreu a metáforas para explicar como lida com pressões, citando sua vivência acompanhando jogos do Palmeiras. “A torcida do Palmeiras é uma coisa que reclama sistematicamente sobre qualquer coisa”, comentou.
Papel de “comandante”
Galípolo comparou o trabalho do BC ao de pilotos de avião, relatando conversa com um brigadeiro durante uma decolagem. “Sempre que alguém vê a rota fala assim: ‘Essa rota é a pior, você devia fazer essa outra’. Eu explico, mas as pessoas sabem que você tá enrolando”.
Segundo o comandante, a prioridade é “seguir fazendo o que é certo para ser mais seguro para as 400 pessoas que estão aqui no voo”. Para Galípolo, “é muito parecido com o Banco Central”.
Ele reforçou o papel da instituição como última barreira contra riscos econômicos.
“O Banco Central é, por definição, o primeiro dos pessimistas e o último dos otimistas. Quando o presidente me convidou, eu falei: ‘O senhor tem consciência que eu sou o zagueiro agora? Sua última linha de defesa. De mim a bola não pode passar’”.
Sobre expectativas de cortes de juros, afirmou que as críticas virão de qualquer forma. “Quando ocorrer ou deixar de ocorrer, vão existir críticas de que foi feito por pressão ou que foi tarde demais. Isso tá dado. Se você não está acostumado com isso […] você não deveria ir para o Banco Central”.
Mesmo assim, destacou que a instituição permanece aberta ao diálogo. “De maneira nenhuma quero dizer que o Banco Central não deve ouvir as críticas”.
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, durante a apresentação do Relatório de Política Monetária.
Raphael Ribeiro/BC
Caso Master expõe necessidade de reforçar fiscalização, diz Galípolo
