‘BC não pode agir com emoção’: Galípolo explica por que Copom manteve Selic a 15%


O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (29) que a decisão do Copom de manter a Selic em 15% reflete a necessidade de cautela em um cenário ainda marcado por incertezas. Segundo ele, “o BC não pode agir com emoção”, mesmo após a deflação recente e a melhora nas expectativas do mercado.
Durante participação em evento do Itaú, em São Paulo, Galípolo disse que o Copom entrou em uma nova fase, mais focada em “esperar e recolher evidências sobre a convergência da inflação para a meta”, conforme já sinalizado na ata.
Ele destacou que não há um único indicador que determine a trajetória da política monetária. “A desancoragem das expectativas é algo que nos incomoda. Temos dois movimentos a observar: o ritmo lento da convergência da inflação e a resiliência da economia”, disse.
Galípolo ressaltou que a taxa de 15% é alta, mas necessária. “O BC jamais disse o contrário quando comparamos com outros países ou com períodos de crise, como 2008 e 2020. A meta que recebemos é levar a inflação para 3%, não para a média internacional”, afirmou, citando a pesquisa Focus, em que nenhuma das projeções atuais prevê inflação exatamente na meta.
Segundo ele, a postura da autoridade monetária precisa ser “vigilante, serena e persistente”. O objetivo é manter a Selic em patamar restritivo pelo tempo necessário para garantir que a inflação caminhe de forma sustentada em direção ao alvo. “Não existe atalho. Mais difícil do que elevar a Selic é mantê-la. Precisamos conviver com uma dose maior de remédio por um período mais longo”, explicou.
O diretor também mencionou a importância de aguardar dados consistentes sobre a atividade. “Essa postura mais humilde do BC, de reunir mais informações antes de incorporar cenários, tem se mostrado correta. Muitos fatores que pareciam impulsionar a economia tiveram efeito menor do que o previsto”, afirmou. Ele lembrou que sinais de desaceleração a partir de junho reforçam a avaliação de que o país caminha para um processo gradual de suavização da economia.
Galípolo destacou ainda que o mercado de trabalho segue resiliente, em um dos melhores momentos das últimas três décadas, o que pressiona a inflação de serviços. “Mesmo com juros acima de 10% e em patamar restritivo, vemos um mercado de trabalho robusto. Esse é um debate que o Brasil precisará enfrentar como sociedade: como conviver com juros altos e, ainda assim, uma economia resistente”, disse.
Para ele, a credibilidade do Banco Central depende de manter a política monetária firme. “Cabe ao BC ancorar as expectativas e colocar a Selic em um nível suficientemente restritivo para assegurar a convergência da inflação para a meta. Não é função da autoridade monetária se antecipar a algo que não existe. Nossa missão é ser vigilantes e pacientes, sem agir com emoção”, concluiu.
*Reportagem em atualização
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, durante a apresentação do Relatório de Política Monetária.
Raphael Ribeiro/BC

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