Fed reduz juros dos EUA pela 1ª vez em 9 meses, para faixa de 4% a 4,25% ao ano


Prédio do Federal Reserve dos EUA em Washington, EUA (maio/2020)
Kevin Lamarque / Reuters
O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, reduziu as taxas de juros do país em 0,25 ponto percentual (p.p.), para a faixa de 4% a 4,25% ao ano. A decisão, anunciada nesta quarta-feira (17), veio em linha com as expectativas do mercado financeiro.
Esse foi o primeiro corte de juros nos EUA em nove meses. A última redução havia ocorrido em 18 de dezembro, quando a taxa passou a ser de 4,25% a 4,50% ao ano. Desde então, foram cinco reuniões consecutivas sem alteração.
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A decisão de hoje tem como pano de fundo os sucessivos ataques ao Fed pelo presidente Donald Trump — que há meses pressiona seus integrantes por juros menores — e a tentativa do republicano de demitir Lisa Cook, diretora da instituição.
O caso inédito de demissão de um integrante do Fed foi parar na Justiça, que suspendeu a decisão. Agentes do mercado financeiro reagiram com preocupação, enxergando a medida como um ataque do presidente à independência do banco central americano.
🔎 A política de juros nos EUA gera reflexos no Brasil. Quando as taxas americanas caem, tende a diminuir a pressão para que a taxa básica de juros brasileira (Selic) permaneça elevada. Além disso, há possíveis efeitos sobre o câmbio, com valorização do real frente ao dólar. (leia mais abaixo)
Em comunicado, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) informou que a criação de vagas de trabalho desacelerou no país, enquanto a taxa de desemprego teve leve alta, mas segue baixa. Ressaltou ainda que a inflação avançou e permanece em patamar relativamente elevado.
“O Comitê estaria preparado para ajustar a condução da política monetária, conforme apropriado, caso surjam riscos que possam prejudicar o alcance de seus objetivos”, disse o colegiado.
Segundo o documento, o único integrante a se opor à decisão foi Stephen Miran, indicado pelo presidente Donald Trump e aprovado na segunda-feira (15) pelo Senado americano para o cargo. Ele defendeu a redução da taxa de juros em 0,5 ponto percentual, para o intervalo de 3,75% a 4% ao ano. (leia mais abaixo)
A diretora Lisa Cook, que recentemente foi alvo de uma tentativa de demissão por Trump, votou conforme os demais integrantes do Fomc.

A decisão desta quarta-feira foi a sexta desde que Donald Trump assumiu como 47º presidente dos EUA, em 20 de janeiro — e a primeira com redução dos juros. Desde a posse, o cenário econômico se tornou mais adverso diante da guerra tarifária promovida pelo republicano.
Economistas, agentes do mercado e o próprio Fed têm destacado os impactos nos EUA das sobretaxas aplicadas por Trump. Um dos principais receios é o aumento da inflação ao consumidor americano, uma preocupação que levou o BC do país a postergar a decisão de reduzir os juros.
Nas últimas semanas, no entanto, dados de um mercado de trabalho mais fraco indicaram uma desaceleração da economia norte-americana, permitindo o corte pelo Fed. Ao mesmo tempo, a inflação permaneceu sob controle, embora continue acima da meta de 2% da instituição.
Nomes de Trump no Fed
A ofensiva de Donald Trump contra o Federal Reserve ganhou destaque nas últimas semanas. Após meses criticando o presidente da instituição, Jerome Powell — a quem já chamou de “burro” e “teimoso” — o republicano passou a mirar na indicação de nomes alinhados à sua agenda econômica.
Na prática, Trump terá duas indicações à diretoria do Fed caso a demissão de Lisa Cook seja confirmada pela Justiça. Além da possível vaga de Cook, ele já anunciou Stephen Miran para substituir Adriana Kugler, diretora que antecipou sua renúncia ao cargo em agosto.
Miran, ex-conselheiro econômico e aliado próximo do presidente, teve seu nome aprovado pelo Senado americano na segunda-feira — a tempo de participar da decisão desta quarta. O economista deve ser uma voz ativa de Trump dentro do Fed, defendendo uma redução mais robusta dos juros.
Paralelamente, o republicano tentou afastar Lisa Cook das reuniões do BC americano nesta semana, mas sem sucesso. A Justiça dos EUA a manteve no cargo, enquanto a gestão Trump acusa a diretora de um suposto caso de fraude hipotecária. O caso irá subir para a Suprema Corte.
Em meio às movimentações no Fed, caso Trump alcançasse a maioria de aliados no conselho da instituição — que tem sete membros —, ele teria maior influência sobre a aprovação das nomeações nos 12 bancos regionais. Assim, ampliaria sua interferência sobre a política monetária.
Reflexos no Brasil — e nos mercados
Juros mais baixos nos EUA reduzem o rendimento das Treasuries, os títulos públicos norte-americanos.
Como são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo, Treasuries com rentabilidades mais altas atraem investidores estrangeiros, que direcionam seus recursos para os EUA, fortalecendo o dólar.
Dessa forma, quando os juros caem por lá, investidores podem buscar oportunidades em outros países, como o Brasil, aumentando o fluxo de capital e valorizando o real em relação à moeda norte-americana.
Além disso, um dólar mais fraco reduz a pressão sobre a inflação por aqui, com reflexos no ciclo de juros do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil.

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