Estudo da USP revela que 64% dos solos do mundo são frágeis e alerta para impactos na agricultura e meio ambiente


Solo arenoso irrigado com gotejamento subterrâneo em área de produção de grãos (milho e soja)

Um estudo liderado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), revelou que 64% dos solos do planeta são arenosos e, por isso, são frágeis devido à baixa retenção de água e nutrientes, maiores riscos de erosão e menor produtividade. Diante do cenário, os pesquisadores fazem alertas sobre impactos na agricultura e meio ambiente.
Após seis anos de trabalho, a pesquisa foi publicada na revista científica internacional The Innovation. Ela foi coordenada pelo professor José Alexandre Demattê e teve participação de 50 cientistas de diversos países, além de estudantes do grupo Geocis, reconhecido internacionalmente na área.
Diante dos dados, os pesquisadores apontam que os solos arenosos, que são pouco explorados no mundo todo, têm relevância para a sustentabilidade.
“Manejar solos arenosos passa a ser crucial para melhoria de questões ambientais e sustentabilidade agrícola, em especial no que tange à segurança alimentar”, afirma Nicolas Rosin, um dos autores.
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No caso do Brasil, o estudo apontou uma presença expressiva de solos arenosos, predominando em estados como Mato Grosso, Maranhão e Pará, enquanto aparecem em menor proporção em estados do sul e sudeste, como São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
De acordo com os autores, o cenário tem influência das condições climáticas e origem geológica dos solos e reforça a necessidade de práticas sustentáveis para garantir produtividade e conservação dessas áreas mais frágeis.
“É necessário dar mais atenção aos solos arenosos do Brasil […], bem como entender sua mineralogia e dinâmica da água, para depois tomar ações de manejo como rotação de culturas, cobertura vegetal, épocas de plantio e colheita e escolha de variedades e cultivares adequadas”, elenca o co-autor Jean Novaes.
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Impactos do manejo inadequado
Segundo os pesquisadores, o manejo inadequado do solo faz ele perder a capacidade de estocar água e carbono, impactando diretamente no clima e produção de alimentos.
“O excesso e uso indiscriminado de produtos inorgânicos permitem aumento de produtividades momentaneamente, mas não são sustentáveis e certamente vão impactar no ambiente (como exemplo, lençol freático), qualidade dos alimentos e saúde do solo”, descreve Demattê.
Produtos inorgânicos são insumos usados para melhorar a produtividade durante o plantio e que não são de origem biológica (de organismos vivos). Entre eles, estão os fertilizantes e agrotóxicos.
O estudo também mostrou que os solos em áreas agrícolas apresentam pH até 1,6 unidades mais elevado do que os encontrados em áreas de vegetação nativa. O pH do solo indica seu nível de acidez ou alcalinidade. Seu desequilíbrio influencia, por exemplo, sua disponibilidade de nutrientes.
Segundo os pesquisadores, a alteração no pH está associada a procedimentos corretivos realizados na prática agrícola, como a calagem (aplicação de calcário) e uso de fertilizantes.
Sistema agroflorestal dentro da reserva Chico Mendes, no estado do Acre, e, ao fundo, uma floresta
Flávio Forner/Divulgação
Importância da vegetação nativa
O estudo ainda revelou que 54% do carbono orgânico global está armazenado em solos sob vegetação nativa, enquanto solos agrícolas possuem em média 60% menos carbono que aqueles de áreas naturais. O professor Raúl Roberto Poppiel explica que o solo atua como um grande reservatório de carbono, ajudando a manter o equilíbrio climático.
A diferença entre um tipo de solo e outro, conforme os autores, se deve principalmente ao uso intensivo do solo e ao preparo constante da terra, que aceleram a perda de matéria orgânica.
Quando o solo perde carbono, também perde a biodiversidade subterrânea, a capacidade de reter água e nutrientes, e até o papel que exerce na regulação do clima são afetados.
“Esse empobrecimento do solo impacta não só a produção agrícola, mas também contribui para o aumento de carbono na atmosfera, intensificando o efeito estufa”, explica Poppiel.
Por isso, práticas agrícolas que aumentem ou preservem o carbono no solo, como plantio direto, uso de culturas de cobertura, ou sistemas agroflorestais, são fundamentais para reverter esse cenário, concluem os pesquisadores.
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